por Zuleide Cristiana
Quem utiliza a prestação de serviço do Uber, com certeza sabe que situações diversificadas e inusitadas podem acontecer. Ou seja, você não tem um motorista particular, mas um prestador de serviço com tempo determinado e espaço reduzido. Alguns motoristas transformam seu carro em uma mini magazine, tem de tudo para vender. Outros te oferecem balas e te recebem com o ar-condicionado ligado em dia de calor.
Porém, o que eu quero relatar é sobre o som dos “Uber”, as músicas tocadas durante o trajeto. Representando a pluralidade musical brasileira, cada motorista tem um gosto único, e cada corrida é uma curiosidade só para saber qual estilo ou ritmo vai tocar. Já ouvi de tudo: sertanejo, rap, música popular brasileira, gospel, música internacional do passado, instrumental, entre outros. O modo como ouvem também é interessante, pois alguns ouvem o som numa altura própria dele, talvez para passar o tempo, outros pensam que estão em casa ouvindo em um volume como se quisesse compartilhar com todo o quarteirão, sem se preocupar em perturbar.
Gosto para música é igual nariz, cada um tem um e tentar convencer os outros que a música é boa pela intensidade do som não é uma boa coisa, principalmente no local de trabalho, pois incomoda muito. O som é diversificado, e agora também usam o celular como rádio de transmissão, em contato com outros colegas que também estão trabalhando, como se fosse um meio de segurança, e assim, vão compartilhando as viagens e aventuras do dia. Então, ouço as histórias sendo contadas, cada uma de um jeito.
Semana passada eu ri muito de uma experiência inusitada que aconteceu comigo em um Uber: sempre que faço uma chamada no aplicativo do Uber ou do 99, observo bem se o motorista é o mesmo da foto, pergunto seu nome para conferir, e também olho o estado em que se encontra o carro, e muitas das vezes, o mesmo se encontra tão sujo que me leva a ter cuidado para não me sujar, odor forte, ou ainda, alguma coisa sem funcionar, como o cinto de segurança, borracha da porta fora do lugar, dentre outras coisas.
Porém, o mais interessante é ver as pessoas tentando ganhar a vida, vendendo chinelos, perfumes, bugigangas em geral, usando o carro como uma pequena loja, porém, o foco hoje é o som dos “Uber”. Fui ao Carrefour fazer compras, fiz uma chamada no aplicativo 99 e a resposta foi rápida. Chegando o motorista, ele ainda me ajudou a colocar as compras no carro, e nem sempre isso acontece, muitas vezes é necessário pedir ajuda para que venha a suceder.
Seu nome era José e ele tem entre 20 e 30 anos. Mas ao entrar no carro,
o que me chamou a atenção foi ouvir sua conversa no viva-voz do celular com um
amigo também motorista de Uber. Este amigo contava uma história, a qual eu
prestei atenção e achei muito divertida, mas o relato do José, o motorista que
estava me levando para casa foi hilário. Seu amigo contou que havia atendido
uma chamada de uma corrida no bairro Monte Hebron de uma mulher querendo ir
para o bairro Tibery, corrida longa, que ele prontamente aceitou, mas quando
chegou lá, haviam quatro mulheres e não apenas uma, e geralmente eles não
gostam de transportar alguém no banco da frente, restando só três lugares no
banco traseiro. As mulheres entraram e aí acrescentaram duas ou três paradas,
não tenho bem certeza. O motorista contou que ele não faz este tipo de corrida,
pois os desvios tomam tempo e elas deveriam ter pedido mais de um “Uber”. Insistiram muito, que já estavam dentro do carro, então, ele poderia levá-las. O rapaz disse que não e que já estava cancelando a corrida.
A parte mais engraçada vem agora, quando o José, me contou toda a história novamente de uma forma mais engraçada, talvez por serem nordestinos, pois esta parte do país produz excelentes humoristas. A cereja do bolo foi seu comentário sobre as mulheres quando ele disse que, assim como elas quiseram economizar ao fazerem uma só chamada, e não três, elas deveriam ter esperado o carro começar a rodar, assim, seria mais difícil para o motorista cancelar a viagem em andamento, porém elas foram muito “afobosas” disse ele. Este termo me fez rir muito, devido à simplicidade e a facilidade com que ele concluiu a conversa e me levou a refletir sobre os mais variados sons do “uber” que às vezes estressam, às vezes agradam e também nos diverte enquanto somos levados de um lado para o outro. Vida sendo vivida.








